sexta-feira, 17 de setembro de 2010

1° ENCONTRO MUNICIPAL DE MULTIPLICADORES DE COMBATE ÀS DROGAS Profissionais falam sobre o crescimento do uso de crack por crianças e adolescentes

Quando o assunto é “drogas”, o Brasil mostra estar de mal a pior. Aproximadamente 1,2 milhões de pessoas usam crack no país e a maioria começa a fumar aos 13 anos de idade, conforme estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), lançada em maio deste ano. O número é assustador e tende a crescer, caso não haja nenhuma medida, em razão da facilidade do acesso a droga e pelo preço do produto, que é bem menor.

Mas Muriaé pretende fazer sua parte no combate a esse vício. Foi realizado nessa quinta-feira à noite (16) o Primeiro Encontro Municipal de Multiplicadores de Combate às Drogas. O objetivo era discutir sobre a realidade desse consumo no município com representantes da saúde e poder público, juntamente com as escolas estaduais, municipais e particulares. A idéia surgiu pelo promotor Spencer dos Santos Ferreira Júnior que proferiu palestra sobre a atuação no Ministério Público frente à dependência química.

Outros convidados também contribuíram com o diálogo. Esteve também presente o sargento da Polícia Militar, Luiz Antônio Freitas, que mostrou as estatísticas da criminalidade ligada às drogas na cidade. Já a coordenadora do Centro de Referência de Assistência Social do Bairro Aeroporto, Poliana Furtado Montezano, falou sobre o CRAS e o trabalho em rede. Abordou-se também, sobre os danos psicológicos causados pela dependência química, entre outros temas.

A delimitação do público alvo “Escolas” tem um objetivo específico. Segundo uma das organizadoras do evento, e também assistente social, Hérika Rodrigues Dala Paula, esses profissionais estão diretamente ligados com as crianças e adolescentes, e, para a continuidade do projeto eles serão fundamentais. “O primeiro foco é trabalhar diretamente com as escolas, porque as crianças e adolescentes passam boa parte do tempo nesse local. Então acreditamos que seja uma forma mais fácil de abarcar de imediato um grande numero de pessoas”.

Na reunião foi formado um grupo técnico de trabalho para ter contato direto com as escolas. Essa equipe é composta por vários profissionais que envolvem a Assistência Social, Psicologia, Judiciário, Educação, COMAD (Conselho de Combate as Drogas), Saúde/ PSF, COMVIDA (Comunidade Terapêutica) e Promotoria. A estratégia é que se dentro da escola o professor ou diretor identificar algum aluno que é dependente químico, ele vai comunicar esse grupo. “Nosso objetivo agora é traçar um plano de trabalho e organizar essa equipe para que possam estar em cada escola de Muriaé e fazer palestras, gincanas para interagir com as crianças” explicou a assistente social Sabrina de Souza, que também organiza o projeto.

Trata-se, em simples palavras, de uma equipe social de apoio. A partir de agora a comunidade já tem a quem acionar. A importância da escola nesse processo é fundamental na atenção primária da criança e do adolescente, para não somente informar o que acontece, mas também poder usar os recursos que a cidade tem a oferecer no combate às drogas.

Tanta importância na educação não tira a responsabilidade dos pais. De acordo com a assistente Sabrina, o papel da família é fundamental para garantir que o indivíduo tenha uma base estruturada para melhor realização do tratamento. “Atualmente as políticas públicas são direcionadas para a família. Isso acontece em caso de haver numa casa algum dependente químico, e essa dependência refletir diretamente a todas as pessoas da família. Então ainda que essa pessoa resolva se cuidar, quando ela volta pra casa, e, em casa continua o mesmo ciclo, ela vai voltar a consumir drogas”, alertou.

É exatamente dando respaldo a essa afirmação que a coordenadora do Centro de Referencia de Assistência Social do Aeroporto, Poliana Furtado Montezano, falou sobre o trabalho em rede. Na palestra ela conta sobre a “Oficina de Paz”, um projeto de convivência entre os profissionais do CRAS juntamente com a família de usuários de droga. Com a experiência do trabalho, ela pôde perceber que quem está sendo alvo do crack na cidade é a criança e o adolescente. Ela admite que o bairro Aeroporto tenha forte envolvimento com a droga,e dentre as maiores causas, está o rompimento dos vínculos familiares. “É exatamente aí que vemos a importância do CRAS. Nossa atuação centra-se no fortalecimento desses vínculos. Eu acredito que esse trabalho em rede com as escolas, poder público e famílias, vai ajudar a diminuir o índice de envolvimento desses menores”.

Além da dificuldade em si, ou seja, dos transtornos que o uso das drogas causa na vida familiar, social e escolar da criança e do adolescente, o preconceito também é apontado como empecilho pela assistente social. A idéia de que a maioria das pessoas que vivem nessa comunidade com debilidade social são ruins, é um dos exemplos citados pela Poliana, que faz questão de ressaltar: “É exatamente o contrário. Na verdade o que eles buscam a melhoria e por isso trabalhamos nessas comunidades para a efetivação direitos. É interessante que as pessoas rompam esse preconceito e haja aproximação. Precisamos de parceiros porque só o poder público atuando não da conta”.

Em Muriaé não se pode nem pensar na possibilidade desse projeto não dar certo, porque não existem entidades ou clínicas de tratamento para esse público específico. A Secretaria de Desenvolvimento Social da cidade já registrou casos de crianças com 13 anos envolvidas com o crack, porém encontraram enorme dificuldade de tratamento exatamente por não haver esses locais.

A esperança da cidade e dos integrantes do projeto, é compartilhada pela mesma ambição do promotor Spencer dos Santos Ferreira Júnior, relatada em sua palestra: “Uma Muriaé melhor para todos!”.



Nenhum comentário:

Postar um comentário